Para conhecer o percurso geográfico dos réus do Sabugal, designadamente a mudança de residência em consequência das perseguições inquisitoriais, vamos analisar a sua naturalidade e morada, por freguesia, tanto quanto nos é possível neste momento.
Temos 131 processos (91,6% do total) com identificação da naturalidade e/ou morada quando da sua prisão, dos quais, 104 (79,4%) se referem a réus acusados de judaísmo. Podemos verificar, portanto, que a elevada percentagem de judaizantes se mantém, pelo que nem seria necessário discriminá-los por freguesia.
Das 40 freguesias actualmente existentes no concelho do Sabugal só conseguimos apurar processos da Inquisição para 18. Convém, desde já, assinalar duas condicionantes para os resultados obtidos. A primeira é que só depois de lidos os processos na íntegra é que poderemos confirmar se todos eles se referem efectivamente a naturais ou moradores na freguesia do Sabugal, dada a enorme diferença verificada em relação às restantes freguesias. A segunda condicionante para compreendermos os valores com que vamos trabalhar, prende-se com o facto de não haver coincidência entre o número de processos para cada freguesia e a soma dos naturais e moradores, em virtude de alguns deles serem simultaneamente naturais e moradores.
Refira-se também que a morada diz respeito, em alguns (poucos) casos a réus que foram presos em locais onde exerciam a sua actividade profissional ou podiam mesmo estar apenas de passagem ou escondidos. Finalmente, registe-se que estamos a analisar processos e não réus, alguns dos quais foram presos mais de uma vez e até com uma grande diferença de anos, pelo que surgem repetidos, acontecendo mudar de morada entre as duas prisões.
Se hierarquizarmos as freguesias pelo número de processos existentes, temos 4 que se destacam das restantes 14, a saber: o Sabugal a grande distância com 71 (54,2%), seguida do Soito com 13 (9,9%), de Alfaiates com 11 (8,4%) e da Aldeia da Ponte com 10 (7,6%).
O mapa da distribuição dos processos pelas freguesias do concelho do Sabugal mostra-nos uma presença de judaizantes por quase todo o concelho, apesar da diferente dimensão e de não contemplarem 22 das suas 40 freguesias.
Mas, o mais importante para o presente estudo é conhecer a quantidade relativa de processos com acusações de judaísmo e de outras acusações nestas 4 freguesias. Para o Sabugal temos 66 processos (93%) com acusação de judaísmo e 5 (7%) com outras acusações; para o Soito, 12 judaizantes (92%) e apenas 1 (8%) não acusado de judaísmo; para Alfaiates, 10 judaizantes (91%) e 1 (9%) com outra acusação; e para a Aldeia da Ponte temos 8 acusações de judaísmo (80%) e 2 (20%) com outras acusações. São números que revelam os locais mais associados à persistência da prática judaica.
Acrescente-se a curiosidade de o Soito ter 12 processos referentes a mulheres e apenas 1 homem. Como é sabido, eram geralmente as mulheres judias que se encarregavam da transmissão da prática secreta do judaísmo aos filhos. Ora, aí está uma freguesia onde será deveras interessante estudar o fenómeno.
Na próxima crónica abordaremos as deslocações dos réus, quer dizer as terras de origem dos que vieram viver para o Sabugal e as terras de destino dos que nasceram no Sabugal.
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