terça-feira, dezembro 25, 2012

O CENSO 2011 E A RELIGIÃO EM PORTUGAL-1

1. A comparação entre os censos de 2001 e 2011 em todo o território português mostra, numa primeira leitura, que houve um aumento demográfico, que diminuiu o número de pessoas que não responderam e que a religião Católica regrediu a favor de todas as outras religiões e dos sem religião. Quanto aos que declararam praticar a religião judaica cresceram 1,7 vezes. Como se explicará esse aumento na última década? Todas as fontes apontam para que existam em Portugal, nos quatro centros comunitários – Lisboa, Belmonte, Porto e Algarve – cerca de 500 judeus organizados. Neste contexto, será aceitável que ascenda a 1000 o número de judeus religiosos. E os restantes 2000, como se explicam? Deve ter-se em conta que se trata apenas de pessoas com 15 e mais anos de idade as que respondem a ambos os censos, pelo que este não poderá ser um elemento explicativo. Em primeiro lugar, a notória visibilidade da proliferação de religiões cristãs não católicas nos últimos anos ajudará a compreender o crescimento que o censo de 2011 revela. Também nos parece que a assunção da religiosidade não católica é cada vez mais aceite em Portugal, o que terá levado muitas pessoas a responder à pergunta, facultativa sobre religião, com cada vez menos receio de ser identificado e discriminado. Mas isto explica somente em parte aquele crescimento dos judeus, que não se constata nas próprias comunidades. Estamos convictos de que se trata de um fenómeno específico do judaísmo português, quer dizer, de muitas pessoas que têm vindo a descobrir que têm ascendência judaica e que se sentem judeus não praticantes, ou mesmo não religiosos. São os marranos portugueses que emergem na sociedade, numa segunda fase. A primeira ocorreu há um século, por via da ação de Samuel Schwarz e Barros Basto e foi uma emergência vincadamente religiosa. A atual, pelo contrário, é uma emergência judaica, em grande parte, não religiosa, mas étnica (a assunção das raízes mais ou menos longínquas) e cultural (como elemento de identidade pessoal). Há uma diferença entre aqueles que nasceram em ambiente católico e que não sentem chamamento religioso e que não têm dificuldade em responder ao censo que não têm religião e aqueles que se sentem judeus culturais e que não hesitaram em responder ao censo na coluna do judaísmo. Os marranos são um grupo muito especial na sociedade portuguesa (e não só).