domingo, abril 30, 2006

APRESENTAÇÃO DE "PORTUGAL E OS JUDEUS"

O 1º volume de "PORTUGAL E OS JUDEUS" foi brilhantemente apresentado pelo Dr. António Carlos Carvalho, na Sociedade de Geografia de Lisboa, em 28 de Abril, cerimónia que terminou com uma excelente dramatização pelo actor Jorge Sequerra de excertos da "Consolação às Tribulações de Israel", de Samuel Usque.
Fotos de Henrique Ribeiro, do portal www.diariodeodivelas.com







quinta-feira, abril 20, 2006

“Jorge Martins, fiel às obrigações que o ser historiador lhe impõe, e à memória que os documentos colocam diante dos seus olhos, veio agora colocar uma importante pedra, sinal piedoso de lembrança e memória, nos túmulos dos muitos judeus portugueses que por cá ficaram, enfrentando o medo, a perseguição e o suplício, e dos outros, tantos foram, obrigados a buscar no desterro a salvação do bem mais precioso, o único verdadeiramente santo: a Vida. Mas que nunca esqueceram esta pátria madrasta.
Desde Mendes dos Remédios («Os Judeus em Portugal», 1895) que não tínhamos uma obra com esta ambição – contar uma História esquecida ou voluntariamente enterrada no labirinto dos arquivos. «Portugal e os Judeus» cumpre o projecto que Mendes dos Remédios não chegou a concluir e vai bem mais além, detendo-se na historiografia e no ensino da História nestes nossos dias de confusão e desorientação.”

António Carlos Carvalho
(do prefácio)
PORTUGAL E OS JUDEUS
VOLUME 1
dos primórdios da nacionalidade à legislação pombalina
RESUMO

Os judeus viveram em clima de relativa tolerância em Portugal desde a formação da nacionalidade no século XII, aumentando as suas comunidades até finais do século XV, época em que representariam cerca de 10% dos menos de 1.500.000 habitantes do país. A partir do Édito de Expulsão de D. Manuel I, em 1496, transformado em baptismo forçado no ano seguinte, a situação degradou-se e, após árduas tentativas do intolerante rei D. João III, a Inquisição foi introduzida em 1536, o que desencadeou o extermínio sistemático do judaísmo em Portugal. Esta situação só terminaria com a acção autoritária do Marquês de Pombal no último quartel do século XVIII e seria definitivamente afastada com a extinção da Inquisição pelo parlamento liberal em 1821.
As primeiras comunidades judaicas contemporâneas começaram a reconstituir-se no início do século XIX e, um século depois, revelar-se-iam ao mundo os criptojudeus sobreviventes do extermínio inquisitorial, que foram descobertos no interior do país, nas Beiras e em Trás-os-Montes, pelo engenheiro judeu polaco Samuel Schwarz. Pela acção determinada do capitão Barros Basto, também ele marrano, iniciou-se a chamada “Obra do Resgate”, que procurou trazer ao judaísmo oficial esses milhares de judeus secretos.
A literatura anti-semita que proliferou entre os séculos XVI e XVIII são fontes inestimáveis para a compreensão do anti-semitismo português. Também a acção filo-semita de personalidades tolerantes como o padre António Vieira, D. Luís da Cunha e o Cavaleiro de Oliveira demonstram que a resistência judaica teve o apoio de alguns dos nossos melhores intelectuais, que contribuiriam assim para o processo de emancipação dos judeus portugueses, iniciado no tempo de Pombal, continuado no período liberal e legalizado durante a I República.
Se a República constituiu uma verdadeira oportunidade para a emancipação judaica portuguesa, também proporcionou a emergência do anti-semitismo ideológico mais virulento, cujos principais arautos, António Sardinha e Mário Saa, teriam dignos discípulos em personalidades integralistas e nacionalistas, como Francisco Pereira de Sequeira e Paulo de Tarso e porta-vozes na imprensa, como o Serviço d’El-Rey e a Acção Realista.
As modernas comunidades israelitas portuguesas edificaram novas sinagogas de raiz, designadamente em Lisboa e no Porto, prosperaram de Norte a Sul, passando pelos arquipélagos dos Açores e da Madeira e envolveram-se nos esforços sionistas da construção da pátria judaica, entre finais do século XIX e meados do século XX.