segunda-feira, novembro 27, 2006

ÍNDICE DA OBRA "PORTUGAL E OS JUDEUS"

VOLUME 1 (mais informação)
DOS PRIMÓRDIOS DA NACIONALIDADE
À LEGISLAÇÃO POMBALINA


PREFÁCIO: António Carlos Carvalho

INTRODUÇÃO


I PARTE
A HISTORIOGRAFIA SOBRE O JUDAÍSMO PORTUGUÊS


CAP 1 - OS ESTUDOS JUDAICOS EM PORTUGAL
1.1. Memórias judaicas
1.2. Estudos sobre Inquisição e judaísmo
1.3. A descoberta do marranismo
1.4. A historiografia judaica contemporânea
1.5. Debate e pesquisa da questão judaica
Conclusão
Notas

CAP 2 - OS JUDEUS PORTUGUESES: UMA HISTÓRIA INVISÍVEL
2.1. Os judeus nas Histórias de Portugal do século XX
2.2. Os judeus nos actuais manuais escolares de História
Conclusão
Notas

II PARTE
OS JUDEUS EM PORTUGAL ATÉ AO SÉCULO XIX


CAP 1 - DOS PRIMÓRDIOS AO ÉDITO DE EXPULSÃO
1.1. O clima de tolerância até ao século XV
1.2. A influência espanhola na situação dos judeus portugueses
1.3. O Édito de Expulsão e o baptismo forçado
1.4. A diáspora judaica
Conclusão
Notas

CAP 2 - ANTIJUDAÍSMO E FILO-SEMITISMO NOS SÉCULOS XVI A XVIII
2.1. Perseguição inquisitorial e resistência judaica
2.2. A literatura antijudaica até ao século XVIII
2.3. O filo-semitismo nos séculos XVI e XVIII
2.4. A legislação pombalina e a emancipação dos judeus
2.5. Declínio e extinção da Inquisição
Conclusão
Notas


VOLUME 2 (mais informação)
DO RESSURGIMENTO DAS COMUNIDADES JUDAICAS
À PRIMEIRA REPÚBLICA


PREFÁCIO: Esther Mucznik

III PARTE
OS JUDEUS EM PORTUGAL NO SÉCULO XIX


CAP 1 - A SITUAÇÃO DOS JUDEUS EUROPEUS NO SÉCULO XIX
1.1. A emancipação dos judeus na Europa
1.1.1. A situação dos judeus franceses
1.1.2. O tolerantismo do abade Grégoire
1.1.3. A atribulada emancipação dos judeus franceses
1.1.4. A irradiação emancipadora francesa na Europa
1.2. A emergência do anti-semitismo rácico
1.2.1. As origens do moderno anti-semitismo europeu
1.2.2. O mito da conspiração judaica mundial
1.3. O terramoto Dreyfus
1.4. Anti-semitismo e sionismo
1.4.1. Os precursores do sionismo
1.4.2. Theodor Herzl e o sionismo político
Conclusão
Notas

CAP 2 - O RESSURGIMENTO DO JUDAÍSMO PORTUGUÊS NO SÉCULO XIX
2.1. As comunidades judaicas oitocentistas
2.1.1. A formação da Comunidade Israelita de Lisboa
2.1.2. As comunidades judaicas oitocentistas no resto do país
2.2. O inexpressivo anti-semitismo oitocentista português
2.2.1. A representação do judeu na literatura
2.2.2. Um anti-semitismo inexpressivo
2.3. Portugal e o “affaire Dreyfus”
Conclusão
Notas


VOLUME 3 (mai informação)
JUDAÍSMO E ANTI-SEMITISMO NO SÉCULO XX


PREFÁCIO: Anita Novinsky

IV PARTE
JUDAÍSMO E ANTI-SEMITISMO EM PORTUGAL NO SÉCULO XX


CAP 1 - JUDAÍSMO, MARRANISMO E SIONISMO EM PORTUGAL
1.1. O judaísmo português nas primeiras décadas do século XX
1.1.1. A Comunidade Israelita de Lisboa
1.1.2. A emancipação dos judeus portugueses
1.2. O fenómeno marrano em Portugal
1.2.1. Raízes do marranismo
1.2.2. Samuel Schwarz e a descoberta dos criptojudeus portugueses
1.2.3. Barros Basto e a “Obra do Resgate”
1.2.4. As comunidades marranas do Norte
1.2.5. O mal-estar marrano na obra Os Judeus, de Sanches de Frias
1.3. Projectos sionistas em Portugal
1.3.1. Theodor Herzl e o projecto de colónia judaica em Moçambique
1.3.2. O projecto republicano de colonização judaica de Angola
1.4. Os judeus em Portugal e a “Solução Final”
1.4.1. A acção diplomática filo-semita
1.4.2. O apoio aos refugiados
Conclusão
Notas

CAP 2 - O ANTI-SEMITISMO LUSITANO
2.1. António Sardinha, o paladino do anti-semitismo lusitano
2.1.1. A Biblioteca de António Sardinha
2.1.2. O anti-semitismo na obra de António Sardinha
2.2. Os Protocolos dos Sábios do Sião em Portugal
2.3. Mário Saa: entre o delírio e a inveja
2.4. Paulo de Tarso, o apóstolo da conspiração judaico-maçónica
2.5. Laivos de anti-semitismo na imprensa integralista e nacionalista
2.5.1. A imprensa integralista e o anti-semitismo
2.5.2. Manifestações anti-semitas na imprensa nacionalista
Conclusão
Notas

CONCLUSÃO

FONTES E BIBLIOGRAFIA

CRONOLOGIA

segunda-feira, novembro 13, 2006

quinta-feira, novembro 02, 2006

LANÇAMENTO NOS AÇORES - 16 DE NOVEMBRO


Portugal e os Judeus vai ser lançado na Universidade dos Açores, no próximo dia 16 de Novembro. O programa contará com a presença do Reitor e da historiadora Profª Fátima Sequeira Dias, da Universidade dos Açores e com uma conferência do autor sobre literatura anti-semita portuguesa.

quinta-feira, outubro 26, 2006

GUIÃO DA EVOCAÇÃO DO ANIVERSÁRIO DA EXECUÇÃO DE ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA


LEITURA DRAMATIZADA DO PROCESSO INQUISITORIAL DE ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA
Santiago Alquimista, 18 de Outubro de 2006


PADRE PREGADOR
Desgraçados homens! Mas por sua culpa desgraçados, que sempre se perderam por negativos. (Muito alto e poderoso Rei e Senhores nossos) Desgraçados homens! Mas por sua culpa desgraçados, que sempre se perderam por negativos. Parece fatalidade, mas é obstinação e perfídia. Antigamente, negaram a Deus os Israelitas, cansados de esperar por ele; agora, negam a Deus, esperando por outro sem cansar.
Veio, finalmente, ao mundo o Messias tão desejado, satisfez o Filho de Deus às esperanças dos homens, fazendo-se homem; e, quando parecia que os Judeus, cansados de tanto esperar, reconheceriam com grande alvoroço o seu Deus e o seu Messias, tornaram ao costume antigo de negar. Inventou a sua perfídia outro modo de negar a Deus. Negaram e disseram que não era este o Messias, mas outro por quem ainda esperam.
Confesso que à vista de tão indesculpável perfídia, quando me mandaram subir hoje a este lugar para desenganar este povo, pretendi fugir ao preceito, desculpando-me com as palavras de Jeremias em semelhante missão: «Ah, Senhor, que não sei falar neste caso e até me faltam as palavras». Não me foi admitida a escusa, como nem ao Profeta, porque o Sermão era de missão, em que tenho por intuito o pregar.
Aqui venho, pois, por obediência, a desenganar este povo, como antigamente Jeremias na sua missão. Mas que hei-de eu dizer a um povo tão obstinadamente negativo? Propor-lhe-ei a sem razão das suas mesmas negações, dando-lhe nos olhos com a sua maliciosa cegueira, para que, vendo a sua grande culpa, se resolvam a chorá-la. Ouvi, pois, infelizes relíquias do Judaísmo; ouvi, irmãos caríssimos, a quem deveras desejo a salvação; ouvi ponderar e convencer a repetida perfídia de vossas negações, não para vo-las lançar em rosto com desprezo, mas sim, para vo-las fazer confessar com arrependimento, que este é o fim com que o Senhor, pelo nosso Profeta, exagera tanto esta grande prevaricação de o haverdes negado.
Para vencer um gentio, deve fazer-se o tiro à cabeça: a razão que lhe pregámos ao entendimento é a pedra que se lhe prega na testa... Mas, para vencer um Judeu infiel, que sendo filho amado, quis ser traidor e inimigo, não à cabeça principalmente, mas ao peito se deve fazer o tiro, não com uma só, mas com muitas lanças se lhe deve tocar e penetrar o coração... para ver se deste modo se rompe o denso véu da sua obstinação e a densa nuvem da sua dureza.
O fogo do inferno em que irão cair se se não emendarem... Oh que poderosas três lanças, para que temendo ser trespassados delas, emendem as suas três negações, com que vos tem ofendido, negando vossa Divindade, negando vossa Vinda e negando vossa Pessoa!
Este tanto temor, e só este tanto temor, quisera eu, irmãos caríssimos, que vos movesse os corações a vos desdizer dos vossos erros e abraçar de todo o coração as verdades católicas. Nem outra cousa intenta este Santo Tribunal.

INQUISIDOR-MOR (para António)
António José da Silva, levantai-vos! (António levanta-se) Sois acusado de judaizar, juntamente com vossa mãe e outros familiares. Confessais vossas culpas?

ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA
Que delito fiz eu para que sinta o peso desta aspérrima cadeia nos horrores de um cárcere penoso? (para o Inquisidor-Mor) Não sei que confessar. Não conheço as culpas deque este tribunal me acusa…

INQUISIDOR-MOR Tragam-me a testemunha de acusação! (entra Leonor Gomes, a escrava denunciante)
Contai a este tribunal vossas denunciações de António.

LEONOR GOMES
O que se passou foi o que segue. Estavam todos juntos, António José, sua mãe, sua tia, seu irmão e sua cunhada, num sábado, a comemorar o Yom Kipur, o “Dia Grande” dos pertinazes judeus. Eu vi-os com estes olhos que a terra há-de comer!...

INQUISIDOR-MOR
Mas, tendes a certeza de que António José da Silva judaizava em casa com a família?

LEONOR GOMES
(Hesitante) Certeza, certeza… não!... (convictamente) Mas, que estaria ele a fazer, reunido em família, justamente no dia mais importante para os cães judeus?

INQUISIDOR-MOR
Não estais certa?!... (bruscamente) Levai-a para as masmorras dos Estaus! (levam-na)
(para António) Em nome de Cristo Nosso Senhor, confessai toda a verdade, para merecerdes a misericórdia deste Santo Tribunal.

ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA
Como hei-de confessar as culpas que não tenho?...

INQUISIDOR-MOR
(Irado) Metei-o a tormento!

(o carrasco arrasta António para junto do polé, o instrumento de tortura)

INQUISIDOR-MOR
Pelo lugar em que estais e instrumentos que nele vedes, podeis entender qual é a diligência que convosco está mandada fazer, pelo que e para o poderdes escusar, vos tornamos a admoestar, com muita caridade da parte de Cristo Nosso Senhor queirais confessar vossas culpas, para com isso alcançardes a misericórdia que nesta mesa se dá aos bons e verdadeiros confitentes.

ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA
Nada mais tenho a confessar, senão meus pecados a Deus no Dia do Juízo Final.

INQUISIDOR-MOR
(Para o público) Se o réu, no tratamento, morrer ou quebrar algum membro ou perder algum sentido, a culpa será sua, pois voluntariamente se expõe a este perigo, que pode evitar confessando suas culpas, e não será dos ministros do Santo Ofício que, fazendo justiça segundo os merecimentos de sua causa, o julgam a tormento.

(António é içado, ficando suspenso pelos braços)

INQUISIDOR-MOR
Em nome de Cristo Nosso Senhor, rogamos que confesseis vossas culpas, para assim alcançardes a misericórdia deste Santo Tribunal.

ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA
(Gemendo descontroladamente) Que quereis que confesse?... Eu confesso tudo o quiserdes!... Mas, por favor, parai com o tormento!...

INQUISIDOR-MOR
Para o carrasco) Parai o tormento!

ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA
(Olhando para cima) Oh Deus, se sois justo, como castigas tão tiranamente este mísero inocente?!

INQUISIDOR-MOR
(Proclamando a sentença) O réu, António José da Silva, comediógrafo desta Corte, acusado de convicto, negativo e relapso, vai condenado à pena de relaxado em carne, pelo que será subido a um mastro alto, aonde morrerá morte natural de garrote, e depois seu corpo será queimado e feito por fogo em pó e suas cinzas lançadas ao mar, para que dele não haja memória.

(António é queimado na fogueira)

PADRE PREGADOR
E no fogo com que ameaça os teimosos obstinados, lhes lembra o maior, e sem comparação maior e mais voraz incêndio do inferno a que vos conduz a sua teima. Não faz agora mais o Santo Tribunal da Fé que lembrar-vos outra vara com a sua vara... Outra vigia com a sua vigia... E outro fogo com o seu fogo... Para ver se o temor destas lanças com que a Justiça Divina vos ameaça, vos penetra agora os corações de forte, que, por uma vez, com verdadeiro e não fingido arrependimento se rendam e confessem em repetidas confissões que o Messias é Deus, já tem vindo e que é o nosso amabilíssimo Jesus, que morreu naquela Cruz por nos salvar.
E vós, a quem a vossa desgraça reduziu à extrema miséria em que vos vejo relaxada à justiça secular, vos lembro, que com tempo abrais os olhos ao desengano. Em breves horas vos vereis em outro Tribunal do Juízo Divino muito mais circunspecto e severo do em que ao presente estais.

(Os convidados são forçados a colocar na fogueira os livros (ou imagens), enquanto o padre secular lê nomes de intelectuais vitimados pela Inquisição)

PADRE PREGADOR
(Lê a lista de nomes)

quinta-feira, outubro 19, 2006

FOTOS DO LANÇAMENTO DO 3º VOLUME NO SANTIAGO ALQUIMISTA EM LISBOA

Um frade anuncia a realização do auto-de-fé



Adolfo Gutkin abre a sessão



Adolfo Gutkin homenageia Bernardo Santareno



O 1º carrasco lê nomes de vítimas da Inquisição



O 2º carrasco lê nomes de vítimas da Inquisição



O 1º inquisidor deposita na fogueira biografias de vítimas da Inquisição



O 2º inquisidor deposita na fogueira biografias de vítimas da Inquisição



O padre pregador profere um sermão aos judeus condenados à fogueira



António José da Silva é interrogado pelo Inquisidor-Mor



A testemunha de acusação denuncia António José da Silva



O Inquisidor-Mor admoesta António José da Silva para que confesse que judaizou com a família



António José da Silva é torturado no polé



O livro "O Judeu", de Bernardo Santareno, é lançado na fogueira



António José da Silva é queimado simbolicamente através das páginas de "O Judeu"



O padre pregador conclui o seu sermão, enquanto António José
da Silva arde na fogueira



Ardem na fogueira as vítimas do Santo Ofício



Os actores agradecem os aplausos do público



Intervenção do Dr. Assírio Bacelar, editor da Nova Vega



O Dr. António Carlos Carvalho apresenta o livro



Intervenção final do autor

domingo, outubro 08, 2006

LANÇAMENTO 3º VOLUME - 18 DE OUTUBRO


O 3º volume de PORTUGAL E OS JUDEUS vai ser lançado em Lisboa no próximo dia 18 de Outubro, às 18h., no TEATRO SANTIAGO ALQUIMISTA, na Rua de Santiago, 19 (junto ao Miradouro de Santa Luzia). A apresentação do livro estará a cargo do Dr. António Carlos Carvalho.
A data evoca o 267º aniversário da execução de António José da Silva ("o judeu"), em auto-de-fé, realizado em 18 de Outubro de 1739. Homenageando este dramaturgo, pretendemos recordar todos os autores que foram vítimas da Inquisição durante quase três séculos de crimes e de terror (1536-1821).
Desta vez, escolhemos a leitura dramatizada de excertos da peça "O JUDEU", de Bernardo Santareno, de que se comemora este ano o 40º aniversário da sua 1ª edição (1966-2006). Esta escolha pretende significar, igualmente, uma homenagem a este dramaturgo, que eternizou António José da Silva, justamente através do teatro.
A direcção da leitura dramatizada estará a cargo de Adolfo Gutkin, com a colaboração de Jorge Sequerra, o actor que participou nos lançamentos dos dois volumes anteriores de Portugal e os Judeus.

domingo, outubro 01, 2006

PORTUGAL E OS JUDEUS - 3º VOLUME


O judaísmo português teve duas fortes vertentes no século XX: a legalização das comunidades judaicas – a de Lisboa foi legalizada em 1912 – e a chamada “Obra do Resgate”, iniciada pela descoberta do criptojudaísmo nas Beiras e em Trás-os-Montes por Samuel Schwarz e dirigida pelo capitão Barros Basto. Depois da edificação da Sinagoga Shaaré Tikvá, em Lisboa, em 1904, o Porto via inaugurar a “Catedral Judaica do Norte”, a Sinagoga Mekor Haim, em 1938. Ao contrário do século XIX, as primeiras décadas do século XX português foram marcadas pela emergência de um anti-semitismo ideológico, protagonizado por correntes nacionalistas, designadamente o Integralismo Lusitano, que surgiu durante a I República e, justamente, contra ela.
Se fizermos hoje um balanço da história dos judeus em Portugal, podemos concluir que o país nunca mais recuperaria a alma judaica. Foi este o mais perene dos muitos crimes da Inquisição, que os dois séculos posteriores à tricentenária história da intolerância não conseguiram reconciliar no ser português que somos hoje. Na verdade, perdemos a nossa plena identidade a partir do início do século XVI e nunca mais a recuperámos até hoje. Por outras palavras, apesar da tão propalada presença judaica no ser português, ainda não somos capazes de assumir, no século XXI, a dimensão judaica da nossa identidade.
Este terceiro volume de Portugal e os Judeus (Judaísmo e Anti-semitismo no Século XX) é lançado à passagem do aniversário da execução de António José da Silva, “o Judeu” – consumido pelas criminosas chamas do auto-de-fé de 18 de Outubro de 1739 –, com o objectivo de homenagear todos os intelectuais, artistas e escritores portugueses assassinados pelo intolerante tribunal do Santo Ofício.

sábado, setembro 23, 2006

EXCERTO DO PREFÁCIO DE ANITA NOVINSKY AO 3º VOLUME DE "PORTUGAL E OS JUDEUS"


Passado um século e meio após a aparição da mais completa obra sobre a história dos judeus em Portugal, de autoria de Meyer Kayserling, nos presenteia Jorge Martins com uma nova história sobre judeus portugueses, que amplia largamente o livro pioneiro do rabino húngaro.
Jorge Martins ressalta a ausência de uma historiografia portuguesa sobre a história dos judeus, mostrando que os dois últimos séculos foram praticamente esquecidos, e apontando ainda quanto as correntes nacionalistas e integralistas foram responsáveis pela renovação de um racismo, e de um anti-semitismo, saudosos dos tempos inquisitoriais.
As principais pesquisas e interpretações, tanto sobre o período em que os judeus viveram em Portugal com autonomia e liberdade, como após o período que abriu a “era dos cristãos novos”, não foram feitas por portugueses, nem publicadas em Portugal. Apesar de alguns excelentes trabalhos terem sido escritos nas últimas décadas, pouca e pobre tem sido a historiografia portuguesa sobre os judeus, os cristãos novos e a Inquisição. Milhares de manuscritos continuam inéditos, desconhecidos e adormecidos nos arquivos portugueses. Jorge Martins vem agora nos três volumes de Portugal e os Judeus resgatar uma história dos Judeus e uma história de Portugal, e oferece aos estudiosos do assunto um material inestimável para novas reflexões.

Anita Novinsky (in Prefácio)
Setembro de 2006

quarta-feira, julho 12, 2006

NO PRELO: PORTUGAL E OS JUDEUS - VOL.3

JUDAÍSMO E ANTI-SEMITISMO NO SÉCULO XX

RESUMO

A realidade judaica portuguesa das primeiras décadas do século XX teve duas fortes vertentes, a Comunidade Israelita de Lisboa, que edificava a Sinagoga Shaaré Tikvá em 1904 e alcançava, finalmente, o estatuto legal durante a República em 1912 e a chamada “Obra do Resgate”, iniciada pela descoberta do criptojudaísmo nas Beiras e em Trás-os-Montes por Samuel Schwarz e dirigida pelo capitão Barros Basto.
Também o sionismo passou por Portugal, com os projectos de colonização judaica de Moçambique em 1903 e o de Angola em 1912/1913. Nenhum deles vingaria, apesar de Angola ter constituído recorrentemente hipótese mais séria que Moçambique, que pouco mais foi do que uma manobra de diversão de Theodor Herzl para pressionar os britânicos nos seus verdadeiros intentos sionistas.
Ao contrário do século XIX, as primeiras décadas do século XX português foram marcadas pela emergência de um anti-semitismo ideológico, protagonizado por correntes nacionalistas, designadamente o Integralismo Lusitano, que emergiu durante a I República e, justamente, contra ela. O seu arauto maior foi António Sardinha, que propunha que a “raça Lusa” se defendesse da miscigenação de que fora vítima pela influência negra e judaica, sugerindo, em prosa e em verso, a acção de uma nova Inquisição purificadora. Tal como no resto da Europa – e um pouco por todo o mundo –, os Protocolos dos Sábios do Sião tiveram a sua primeira tradução portuguesa em 1923 e alimentaram as hostes nacionalistas lusas com o mito da conspiração judaica mundial, na fase terminal da República. Só não teve mais projecção entre nós naquela época porque a comunidade judaica portuguesa era minúscula e discreta.
Foi este o anti-semitismo lusitano, à medida dos nossos nacionalistas, que, não obstante, não fizeram passar o ideário antijudaico, nem para o regime que se começou a desenhar em 1926 e se edificou, com Salazar, a partir de 1932, nem para a criação de movimentos anti-semitas ou a organização de acções pogromistas. Em consequência, os nossos racistas não seriam protagonistas de qualquer movimento e o catecismo anti-semita não vingaria, podendo apenas registar-se alguns episódios privados e irrelevantes ou manifestações patéticas e anacrónicas, como foi a reedição dos Protocolos em 1976, em plena democracia pós-25 de Abril.
Foi em pleno regime republicano que emergiram à luz do dia das conservadoras terras interiores das Beiras e de Trás-os-Montes as comunidades marranas, esquecidas do judaísmo oficial, esquecidas do país, esquecidas do mundo, esquecidas até de si próprias. Novo abalo se sentiria nas hostes anti-semitas, que haviam sido emudecidas por Pombal desde o último quartel do século XVIII. Com efeito, se o século XIX não foi favorável ao crescimento dessas ideias entre nós, a proclamação da República e o resgate do criptojudaísmo veio proporcionar novos argumentos aos paladinos da intolerância, adversários da liberdade e da democracia. Barros Basto tornava-se assim o centro das atenções anti-semitas, enquanto se invocavam os Protocolos dos Sábios do Sião para confirmar as judaicas pretensões dominadoras do mundo e derruidoras do edifício católico.
Num balanço final da história dos judeus em Portugal, podemos concluir que o país nunca mais recuperaria a alma judaica, enterrada pela Inquisição e inviabilizada na sua forma única de sobrevivência: o marranismo. Forçados a abjurar o judaísmo, perseguidos por nos termos tornado cristãos-novos à força, impossibilitados de regressar ao judaísmo oficial e incapazes de criar uma igreja marrana, tornámo-nos um povo com identidade, não apenas múltipla e miscigenada, mas difusa e sempre dominada por uma angustiante duplicidade, que nos tem impelido, ora para a exagerada euforia optimista, ora para o recorrente pessimismo de não termos assumido uma identidade, qualquer que fosse, mas uma identidade assente em inequívocas raízes de pertença, interiorizadas em todas as suas dimensões.
Foi este o mais perene dos muitos crimes da Inquisição, que os dois séculos posteriores à tri-centenária história da intolerância não conseguiram reconciliar no ser português que somos hoje. Na verdade, perdemos a nossa plena identidade a partir do início do século XVI e nunca mais a recuperámos até hoje. Por outras palavras, apesar da tão propalada presença judaica no ser português, ainda não somos capazes de assumir, no século XXI, a dimensão judaica da nossa identidade. Isto é consequência da bem sucedida acção de desmantelamento da sociedade das três culturas – cristã, judaica e muçulmana – que Portugal esboçou na aurora da nacionalidade e se poderia ter aprofundado, não fora o infamante decreto de expulsão e o terrorista tribunal da Inquisição.
A desestruturação mental que o baptismo forçado e a acção inquisitorial operaram na sociedade portuguesa, obliterou o convívio inter-religioso e intercultural que se estava a construir ainda antes da fundação da nacionalidade e se aprofundou durante os séculos XII a XV. Foi a intolerância católica que impediu o português de quinhentos de ser o que era, de facto: um povo de raízes diversas. Essa amputação social, cultural e mental teria repercussões incomensuráveis em todos os domínios da vida portuguesa, acabando por atravessar a história dos judeus, dos marranos e dos cristãos (novos e velhos), que não mais puderam assumir-se em toda a plenitude do seu ser. Dos escolhos da(s) intolerância(s) emergiria um novo português, o português que todos nós somos um pouco: o marrano, que, quer queiramos ou não, ficou-nos como uma marca indelével.

quarta-feira, junho 21, 2006

FOTOS DO LANÇAMENTO DO VOLUME 2 NA FNAC-COLOMBO DIA 2O DE JUNHO DE 2006

Fotos de Henrique Ribeiro, portal DIÁRIO DE ODIVELAS


A MESA DA SESSÃO DE LANÇAMENTO.


A INTERVENÇÃO DO EDITOR, DR. ASSÍRIO BACELAR.

A INTERVENÇÃO DA DRª ESTHER MUCZNIK.


A INTERVENÇÃO DE JORGE MARTINS.


A ASSISTÊNCIA.




O ACTOR JORGE SEQUERRA LENDO EXCERTOS DA "CRÓNICA DE D. MANUEL", DE DAMIÃO DE GÓIS.


JORGE SEQUERRA NA PELE DE UM INQUISIDOR NO PROCESSO DE DAMIÃO DE GÓIS.


O INQUISIDOR INTERROMPE O DISCURSO DE JORGE MARTINS.

O INQUISIDOR PROIBE O AUTOR DE CRITICAR A INQUISIÇÃO.


O INQUISIDOR CONDUZ O AUTOR AO PALÁCIO DA INQUISIÇÃO.


SESSÃO DE AUTÓGRAFOS.


terça-feira, junho 13, 2006

FNAC - COLOMBO, DIA 20, 18.30H

LANÇAMENTO VOLUME 2

Apresentação: Drª Esther Mucznik
Leitura de excertos da "Crónica de D. Manuel": actor Jorge Sequerra

sexta-feira, junho 02, 2006

PORTUGAL E OS JUDEUS - VOLUME 2

DO RESSURGIMENTO DAS COMUNIDADES JUDAICAS
À PRIMEIRA REPÚBLICA



A emancipação dos judeus franceses, em finais do século XVIII, abriria um ciclo de emancipações judaicas europeias, que se prolongariam pelo século XIX. Contudo, o despontar do moderno anti-semitismo europeu na segunda metade do século XIX, consubstanciado pela crescente literatura racista, suportada por pretensas teses “científicas”, criara condições para que o “affaire Dreyfus” se tornasse um caso de opinião pública internacional, chamando a atenção para a “questão judaica” que, afinal não havia sido enterrada pela onda de emancipação dos judeus no velho continente. Os pogromes na Rússia czarista, desde os primeiros anos de 1880 até início do século XX, com a prestimosa ajuda da mais controversa e célebre falsificação do século, levada a cabo pela Okhrana – Os Protocolos dos Sábios do Sião –, abririam uma nova fase para a situação dos judeus na Europa, desta vez, da Rússia à França. O mito da conspiração judaica mundial ganharia a primazia no combate dos anti-semitas europeus.
Foi neste difícil contexto que surgiu o sionismo político, corajosamente sugerido por Theodor Herzl, que ficara muito impressionado com os acontecimentos do caso Dreyfus, que presenciara e que o levaram a propor a criação de um Estado Judaico, como única solução para o inusitado anti-semitismo crescente, que fustigava dramaticamente os seus irmãos na Europa Oriental. Na realidade, o Estado judaico viria a tornar-se uma possibilidade séria, embora de difícil concretização.
Em Portugal, quando o parlamento liberal extinguiu a Inquisição em 1821 já os primeiros judeus marcavam presença, principalmente em Lisboa e nos Açores, onde haviam constituído comunidades organizadas. O ressurgimento do judaísmo português durante o século XIX seria uma realidade insofismável, embora não reconhecida oficial e legalmente pelas autoridades monárquicas. Tacitamente aceites e tolerantemente integrados na sociedade portuguesa, os judeus procederiam à sua organização, criando sinagogas, edificando cemitérios e afirmando-se no país, pela emergência de figuras gradas, que atingiriam o reconhecimento público em diversas actividades económicas, culturais, científicas e académicas.
O “affaire Dreyfus” revelou-se um excelente barómetro para atestar do estado da questão judaica em Portugal. E, de facto, desde 1820 não houve questão judaica portuguesa até à implantação da República. O movimento antidreyfusista não teve eco na sociedade portuguesa da época. Antes pelo contrário. Só no início do século XX, com António Sardinha, o maurrasiano mentor do Integralismo Lusitano, assistiríamos à emergência de um anti-semitismo ideológico, que se espalharia entre algumas das figuras mais conservadoras da direita nacionalista portuguesa durante os turbulentos anos da Primeira República.

sábado, maio 27, 2006

PREFÁCIO DE ESTHER MUCZNIK NO 2º VOLUME

Cabe-me o privilégio de fazer o prefácio para o II volume da obra “Portugal e os Judeus”, que corresponde à tese de doutoramento de Jorge Martins. Não é a primeira publicação do autor – há muitos anos que Jorge Martins vem estudando, investigando, ensinando e escrevendo sobre a temática judaica. A sua tese reflecte, pois, essa investigação aturada: nela sentimos uma atenção sustentada, um conhecimento aprofundado por anos de estudo e acima de tudo, uma real empatia com o objecto de estudo, indispensável a qualquer investigação séria. Analisando o seu trabalho ficamos com a clara noção de que não se trata de uma súbita e passageira paixão, mas de uma relação fecunda e duradoura.
(…) Não quero deixar de saudar o autor por este magnífico trabalho que permite trazer ao conhecimento do público interessado, um período muito rico, mas ainda pouco investigado e divulgado, da história de “Portugal e os Judeus”.

Esther Mucznik (in Prefácio)

sábado, maio 13, 2006

LANÇAMENTO DO 2º VOLUME DE "PORTUGAL E OS JUDEUS":
DIA 20 DE JUNHO, 18.30H, FNAC-COLOMBO.

quarta-feira, maio 03, 2006

CONFERÊNCIA, DIA 28, NO CLUBE LITERÁRIO DO PORTO


O livro "Portugal e os Judeus" será apresentado no Clube Literário do Porto, no próximo dia 28 de Maio (domingo), às 21.30h., seguida de uma conferência do autor, intitulada "A literatura anti-semita em Portugal"

domingo, abril 30, 2006

APRESENTAÇÃO DE "PORTUGAL E OS JUDEUS"

O 1º volume de "PORTUGAL E OS JUDEUS" foi brilhantemente apresentado pelo Dr. António Carlos Carvalho, na Sociedade de Geografia de Lisboa, em 28 de Abril, cerimónia que terminou com uma excelente dramatização pelo actor Jorge Sequerra de excertos da "Consolação às Tribulações de Israel", de Samuel Usque.
Fotos de Henrique Ribeiro, do portal www.diariodeodivelas.com