Há um mito muito divulgado acerca dos nomes de origem judaica, que consiste em considerar os apelidos com nomes de árvores como prova da ascendência judaica. Na verdade, a generalidade dos estudos e dos estudiosos da questão têm concluído que isso não corresponde aos casos conhecidos. Os apelidos dos réus do Sabugal (naturais ou/e residentes) vêm confirmar esta desmistificação.
O estudo dos apelidos dos processos inquisitoriais dos réus naturais ou residentes no concelho do Sabugal desmistificam cabalmente esta ideia generalizada entre nós. Os nomes de plantas ou árvores dos réus sabugalenses com processo aberto são apenas 8 no conjunto dos 143: Carvalho: 2, Pereira: 2, Sabugueiro: 1, Silva: 2, Silveira: 1. Coisa pouca, se compararmos com os apelidos com mais referências que encontrámos nos processos em análise.
A situação ficará melhor esclarecida se nos concentrarmos nos doze apelidos predominantes, com destaque para os 4 primeiros, que, em conjunto, representam 65 réus acusados de judaísmo: Rodrigues (24), Henriques (21), Mendes (10) e Nunes (10). Se observarmos a situação social desses réus, dos 26 Rodrigues, 20 são homens e 6 são mulheres, dos quais 23 são cristãos-novos e 3 são de estatuto social desconhecido; dos 21 Henriques, 6 são homens e 15 são mulheres, dos quais 16 são cristãos-novos, 1 cristão-velho e 4 desconhecidos; dos 10 Mendes, 3 são homens e 7 são mulheres, todos cristãos-novos; e dos 11 Nunes, 7 são homens e 4 são mulheres, sendo 9 cristãos-novos e 2 de estatuto social desconhecido. Finalmente, dos 68 processos referentes aos réus com esses quatro apelidos, 85% eram cristãos-novos e 96% estavam acusados de judaísmo. Não há dúvidas, portanto, quanto à ascendência judaica destas famílias sabugalenses.
Os apelidos constituem mais um contributo para a construção do perfil do judeu sabugalense, a juntar aos anteriores, a saber: homem ou mulher com uma média de 37 anos de idade, com o estatuto social de cristão-novo, o estatuto profissional de mercador ou similar e o apelido de Rodrigues para os homens e de Henriques para as mulheres.
Contudo, é preciso ter em conta que nos estamos a referir apenas aos apelidos dos réus e não aos dos seus pais e até dos avós. Através dos processos inquisitoriais que estamos a analisar, conhecemos a quase totalidade dos pais dos réus e apenas alguns avós, mas será o suficiente para estabelecermos as redes familiares dos cristãos-novos sabugalenses e poder, em consequência, conhecer melhor a genealogia do judaísmo sabugalense ao longo de mais de dois séculos de persistência criptojudaica, quer dizer, do judaísmo praticado no segredo das famílias perseguidas pelos tribunais das Inquisições de Lisboa, Coimbra e Évora.
VER CAPEIA ARRAIANA
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