Eis um texto interpretativo do monumento da Comunidade Israelita de Lisboa, de homenagem às vítimas do massacre judaico de Lisboa de 1506, instalado no Largo de São Domimgos, epicentro daquela barbárie que vitimou milhares de cristãos-novos lisboetas.
“Muito embora, no Séc. XV, a estrela de David não fosse ainda um símbolo judaico, este monumento (em cuja meia esfera a Estrela de David aparece voltada para cima) é muito imponente e correcto. Dá a sensação que, através da sua pureza, pedra e volume, o seu designer quis transmitir:
-Que os Judeus estão ligados ao mundo (ao nosso universo) e o mundo a eles, bem como toda a humanidade;
-Que o mundo gira sem parar, tal como os bons e os maus eventos. Mas que, por vezes, certos eventos cortam, molestam o normal caminho que as coisas seguem (o que é simbolizado pelo corte da esfera pela Estrela de David). E, então, todos os envolvidos directa ou indirectamente (vítimas e perseguidores) são molestados;
-Que um certo evento corta a perfeição e “o todo” do mundo. Mas, mesmo com tais horríveis eventos, nós olhamos em frente para o mundo (simbolizado pela parede) – para a mensagem de continuidade e aprendizagem a partir do passado, que nós (todos os seres humanos) sustentamos firmemente como uma parede forte, e para a mensagem de tolerância a todos os povos (quaisquer que sejam as suas línguas, palavras e sistema de escrita);
-Que há uma grande relação entre as várias crenças (simbolizadas pela esfera) com a crença judaica – que corta, com a sua estrela, o mundo mas está também no meio dele.
A parede atrás realça e completa a mensagem com as suas palavras cuidadosamente pensadas. E dá ao local (Lisboa e mesmo a Portugal) não apenas a estabilidade que merecem mas também uma clara mensagem de força, tolerância e aceitação do passado e, especialmente, do agora e do futuro. Por outro lado, põe Lisboa no centro dos acontecimentos (quer sejam do passado, do presente ou do futuro) proclamando que as pessoas deveriam olhar o passado na face e aprender a partir dele, não apenas localmente mas também em qualquer outro lugar do mundo.
Eu poderia continuar por aí fora, porque penso que este monumento é tão apropriado e foi tão bem percebido.
Todos os lisboetas e portugueses deveriam sentir-se orgulhosos dele.”
Shua Amorai-Stark. Historiadora de Arte.
Tradução de Graça Cravinho
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