O processo de emancipação dos judeus portugueses foi longo e difícil. Se Pombal manietou a Inquisição no último quartel do século XVIII, os liberais vintistas extirparam-na definitivamente e a República reabilitou e legalizou as comunidades judaicas. A lei da Separação da Igreja e do Estado e a Constituição de 1911 criaram um novo paradigma religioso, que proporcionou ao judaísmo uma verdadeira liberdade de culto, como nunca acontecera em quase oito séculos de existência do Reino. As duas maiores comunidades judaicas foram legalizadas em 1912 (Lisboa) e 1923 (Porto), em plena República. Continuando a tradição liberal de piedade para com o judeu injustamente perseguido pela Inquisição, o republicanismo acolheu bem a Comunidade Israelita de Lisboa e tratou os judeus como seus iguais. Os republicanos no poder não se limitaram a desculpabilizar-se pelos quase três séculos de discriminação, antes chamaram alguns judeus, desde a primeira hora, para colaborarem na obra do novo regime. No lado oposto do projecto republicano, os anti-semitas fizeram tudo o que puderam para denegrir a República. No fundo, o anti-semitismo foi, para os integralistas, essencialmente um pretexto para combater a República. E a República respondeu-lhes com a legalização e a dignificação dos nossos judeus, situação que não mais voltaria a retroceder e se reforçaria após o 25 de Abril de 1974, com a Constituição de 1976 e a Lei da Liberdade Religiosa, de 2001.
Jorge Martins